Fazer um empréstimo na crise para pagar minhas contas. Devo ou não fazer?
Há quase um mês, em meu Blog pessoal (Tempos Atuais!), externei uma primeira reflexão sobre o dilema que nos aflige, principalmente com o enfrentamento da Pandemia da Covid-19: saúde x economia!
Desta vez, minhas reflexões recairão sobre uma parcela da população de quem há uma cobrança adicional, e extremamente vigorosa: o empresariado.
O problema
Para os micro e pequenos empresários o dilema se torna mais perverso, pois, em geral, são muito mais próximos da comunidade onde atuam e, para ela, tem grande representatividade. Sua sobrevivência é essencial para a preservação da condição econômica de seus empregados e de si próprios.
A queda nas vendas, quando não sua total paralisação, não reduz os gastos fixos existentes. Como fazer então para pagar as contas?
Contrair empréstimo na crise seria a solução?
O que anda acontecendo…
Vejam trecho de artigo divulgado em 09/04/2020, no sita da CNN Brasil:
“Pelo menos 600 mil micro e pequenas empresas fecharam as portas e 9 milhões de funcionários foram demitidos em razão dos efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus. É o que mostra levantamento feito pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas empresas) e obtido com exclusividade pela CNN.
A pesquisa também mostra que 30% dos empresários tiveram que buscar empréstimos para manter seus negócios, mas o resultado não tem sido positivo: 29,5% destes empreendedores ainda aguarda uma resposta das instituições financeiras e 59,2% simplesmentes tiveram seus pedidos negados.”
https://www.cnnbrasil.com.br/business/2020/04/09/mais-de-600-mil-pequenas-empresas-fecharam-as-portas-com-coronavirus
Empresários têm, então, ou encerrado suas atividades, ou recorrido ao mercado de crédito na busca de recursos para financiar suas atividades.
Mas, recorrer a empréstimo na crise, principalmente com um horizonte tão incerto, vale a pena?
Refletindo um pouco mais…
Empresas, ainda que do mesmo ramo e atuando no mesmo mercado, têm suas peculiaridades que podem fazer com que uma mesma receita nos traga bolos diferentes. Apesar disso, há orientações gerais que podem ser seguidas.
A meu ver, o mais importante agora é:
- diminuir o ritmo: quando se está correndo perde-se a capacidade de se reparar nos detalhes do caminho, daí a necessidade de reduzir a velocidade… não é o mesmo que parar;
- buscar autoconhecimento: o mundo está mudando e a Pandemia nos mostrou com que velocidade isso pode acontecer, escancarando nossas limitações e, ao mesmo tempo, permitindo que identifiquemos com mais facilidade nossos pontos fortes;
- decidir: só ao empresário é que cabe a decisão sobre o futuro da empresa, pois é ele quem, afinal, tem que arcar com todas as obrigações (trabalhistas, tributárias, comerciais, etc.) que advém do exercício da atividade econômica;
- planejar: quem planeja tem a capacidade de adaptar mais rapidamente a condições novas ou adversas, de tomar melhores decisões, de ser mais eficientes;
- mudar / adaptar: decisão tomada… agora é alterar tudo, tudo mesmo, o que for necessário para que a empresa retome seu caminho; e
- agir: continuar fazendo desses passos um ciclo a ser repetido.
Ninguém quer ou gosta, e nem deveria, desistir de um sonho!
Mas às vezes é preciso adiar sua realização ou consolidação! Afinal, realizar um sonho deve nos trazer alegrias, não tristezas e preocupações.
O futuro…
O Governo lançou programas econômicos visando minimizar os impactos que a pandemia tem causado sobre as pessoas e empresas, como por exemplo: a postergação de tributos, pagamento de parte da folha de pagamento e a possibilidade de se tomar empréstimos bancários subsidiados.
Busca-se com essas medidas, dentre outras coisas, reforçar o caixa das empresas para a manutenção do nível de emprego.
Destaco que o acesso a esses programas exige inúmeros pré-requisitos.
Mas há uma condição sine qua non, pouco ou nunca lembrada por todos aqueles que estão pleiteando acesso a tais programas:
no futuro deve haver uma forte retomada da atividade econômica.
No pós-pandemia, será necessário que a retomada permita às empresas:
- pagar suas despesas normais/correntes;
- arcar com os valores adicionais de eventuais postergações de tributos;
- amortizar os empréstimos tomados;
- permanecerem lucrativas.
Daí a importância de se refletir bem sobre quais decisões tomar, e agora.
Não é um caso de “a prestação cabe no meu orçamento”, mas sim de saídas futuras do caixa da empresa vinculados a uma incerteza ainda presente.
Mesmo que as taxas de juros dos empréstimos pareçam atraentes, é necessário um estudo bem feito da projeção da receita futura da empresa, o que acredito ser, o motivo principal da negativa das instituições financeiras na concessão de operações de crédito.
Alterações recentes foram promovidas nas linhas de crédito ofertadas (Lei 13.999/2020), tornando-as mais próximas da realidade das micro e pequenas empresas.
Ainda assim, é prudente que se busque aconselhamento com seus Contadores e parceiros para a análise e projeção dos resultados futuros, na determinação das linhas de ação a serem adotadas, no dimensionamento da estrutura da empresa durante e após a crise.